terça-feira, 17 de maio de 2011

Exercício de gramática4

Leia o seguinte texto.

Se te dizem que faças o que quiseres, a primeira coisa que parece aconselhável é que
penses com tempo e a fundo o que é aquilo que queres. Apetecem-te com certeza muitas coisas, amiúde contraditórias, como acontece com toda a gente: queres ter uma moto, mas não queres partir a cabeça no asfalto, queres ter amigos, mas sem perderes a tua independência, queres ter dinheiro, mas não queres sujeitar-te ao próximo para o conseguires, queres saber coisas e por isso compreendes que é preciso estudar, mas também queres divertir-te, queres que eu não te chateie e te deixe viver à tua maneira, mas também que esteja presente para te ajudar quando necessitas disso, etc. Numa palavra, se tivesses que resumir tudo isto e pôr sinceramente em palavras o teu desejo global e mais profundo, dir-me-ias: «Olha, pai, o que eu quero é ter uma vida boa.» Bravo! O prémio para este senhor! Era isso mesmo o meu conselho: quando te disse «faz o que quiseres», o que, no fundo, pretendia recomendar-te é que tivesses o atrevimento de teres uma vida boa. (…)
Queres ter uma vida boa: magnífico. Mas também queres que essa vida boa não seja a vida boa de uma couve-flor ou de um escaravelho, com todo o respeito que tenho por ambas as espécies, mas uma vida humana boa. É o que te interessa, creio eu. E tenho a certeza de que não renunciarias a isso por nada deste mundo. Ser-se humano, já o vimos antes, consiste principalmente em ter relações com outros seres humanos. Se pudesses ter muito, muito dinheiro, uma casa mais sumptuosa do que um palácio das mil e uma noites, as melhores roupas, os alimentos mais requintados (…), as aparelhagens mais perfeitas, etc., mas tudo isso à custa de não voltares a ver nem a ser visto – nunca – por um outro ser humano, ficarias satisfeito? Quanto tempo poderias viver assim sem te tornares louco? Não será a maior das loucuras querermos as coisas à custa da relação com as pessoas? Mas se justamente a graça de todas as coisas de que falámos assenta no facto de te permitirem – ou parecerem permitir – relacionares-te mais favoravelmente com os outros! (…) Muito poucas coisas conservam a sua graça na solidão; e se a solidão for completa e definitiva, todas as coisas se volvem irremediavelmente amargas. A vida humana boa é vida boa entre seres humanos ou, caso contrário, pode ser que seja ainda vida, mas não será nem boa nem humana.
Fernando Savater, Ética para um Jovem,
7.ª ed., trad. Miguel Serras Pereira, Lisboa, Presença, 2000

Seleccione, em cada um dos itens de 1 a 7, a única alternativa que permite obter uma afirmação adequada ao sentido do texto.
Escreva, na folha de respostas, o número de cada item, seguido da letra que identifica a alternativa correcta.

1. A característica essencial da vida humana é, segundo o autor, a
(A) ambição.
(B) neutralidade.
(C) imparcialidade.
(D) comunicação.

2. O conceito de educação implícito nas palavras do autor poderá traduzir-se pelo princípio da
(A) máxima liberdade para a mínima responsabilidade.
(B) mínima liberdade para a maior responsabilidade.
(C) máxima liberdade para a máxima responsabilidade.
(D) mínima liberdade para a menor responsabilidade.

3. O significado de «amiúde» (linha 3) é
(A) casualmente.
(B) frequentemente.
(C) invariavelmente.
(D) esporadicamente.

4. Em «e te deixe viver» (linha 7), a anteposição do pronome «te» ao verbo decorre do facto de esta oração
(A) se integrar numa frase em discurso indirecto.
(B) depender do advérbio «também» (linha 7).
(C) se inserir numa oração subordinada.
(D) pertencer a uma frase de forma negativa.

5. Em «dir-me-ias» (linha 10), o pronome «me» ocorre em posição medial por se tratar de uma forma verbal no
(A) condicional.
(B) futuro do indicativo.
(C) imperativo.
(D) imperfeito do indicativo.

6. O uso de dois pontos (linha 11) justifica-se por
(A) anunciar uma enumeração.
(B) introduzir uma explicação.
(C) preceder uma citação.
(D) anteceder um discurso directo.

7. A expressão «pode ser que seja ainda vida» (linha 27) veicula um valor de
(A) obrigação.
(B) permissão.
(C) certeza.
(D) possibilidade.

8. Faça corresponder a cada segmento textual da coluna A um único segmento textual da coluna B, de modo a obter uma afirmação adequada ao sentido do texto.
Escreva, na folha de respostas, o número do item e os números que identificam os cinco segmentos textuais da coluna A, cada um destes seguido da alínea da coluna B que lhe corresponde.



1)     Com a expressão «Numa palavra» (linha 8),

2)     Com o recurso à interjeição «Bravo!» (linha 10),

3)     Com as expressões «vida boa de uma couve-flor» e «ou de um escaravelho» (linha 14),

4)     Com o recurso a interrogações (linhas 17 a 22),

5)     Com o uso do travessão duplo (linhas 23 e 24),



a)     o enunciador manifesta um estado emocional.

b)     o enunciador introduz um nexo de causalidade.

c)     o enunciador prenuncia uma síntese das ideias anteriormente expressas.

d)     o enunciador apresenta o conteúdo da frase como uma obrigação.

e)     o enunciador lança mão de exemplos para reforçar o peso das ideias que expõe.

f)      o enunciador introduz um tópico novo, distinto dos anteriormente apresentados.

g)     o enunciador recorre a uma estratégia retórica de defesa da ideia exposta.

h)     o enunciador reformula, modalizando-a, a afirmação anterior.













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