terça-feira, 17 de maio de 2011

Exercício de gramática2

Leia, atentamente, o seguinte texto.

Não creio que as classificações acrescentem o que quer que seja à fruição de uma obra de arte, seja ela literária ou de outra qualquer natureza; mas também não penso que a prejudiquem. Por isso, ao terminar a leitura de Memorial do Convento, ainda sob o império da fascinação que ela me provocou, surpreendi-me a interrogar: que livro é este? Que escreveu, que quis José Saramago escrever? Um romance histórico? Um romance realista? Uma alegoria? Uma parábola? Uma epopeia? Um conto de fadas? Uma história de amor? […] A resposta surgiu, inevitável, irrecusável por assim dizer: Memorial do Convento é tudo isso, um caleidoscópio, […] um espelho do real reinventado, diverso e complexo, à imagem e semelhança do mundo e dos homens que nele habitam e o fazem avançar. […]
Este romance não é apenas um romance histórico, a sua duração transcende os limites cronológicos do quadro histórico em que à primeira vista parece encerrar-se […]. A cada passo surgem referências a acontecimentos que virão a produzir-se muito para além do marco temporal da história que nos é contada – a propósito dos damascos carmesins e dos panos verdes que ornamentam o coro da Igreja alude-se ao «gosto português pelo verde e pelo encarnado, que, em vindo uma república, dará bandeira» […]. É que, neste romance […], a história não é uma categoria imutável e fixa, mas a contínua respiração da realidade, rio cujas águas nunca param e nunca se repetem. […]
A luta de classes. De outra coisa não fala este romance que por isso mesmo é também um romance realista – e uma epopeia. Às duas epígrafes1 que o autor lhe antepôs – uma do Padre Manuel Velho, a outra de Marguerite Yourcenar – poderia ter acrescentado uma terceira, extraída do conhecido poema de Brecht intitulado «Perguntas de um Operário Letrado», que começa por estes três versos: «Quem construiu Tebas, a das sete portas? / / Nos livros vem o nome dos reis. / Mas foram os reis que transportaram as pedras?» É a uma pergunta análoga que o Memorial dá resposta. Para assegurar a sua progénie2, um rei beato promete erigir um convento de franciscanos na vila de Mafra. Mas são os servos da gleba que, com o seu sangue e o seu suor hão-de construí-lo, homens vindos de todos os cantos do país, atraídos pela esperança de melhor salário, levados à força outros como se gado fossem […].
Com tudo isto, ficou ainda por dizer que o romance deve muito da sua força narrativa ao estilo incomparável de Saramago, ao seu perfeito domínio da língua portuguesa, a que este livro é uma permanente homenagem, à opulência de uma escrita em que o extremo rigor e a liberdade estreme3 se conjugam, numa rara aliança em que nenhum deles é sacrificado pelo outro e antes mutuamente se enriquecem.
Luís Francisco Rebelo, Memorial do Convento, José Saramago,
25 anos da 1.ª edição: A recepção da crítica na época, Lisboa, Caminho, s.d.
1 epígrafe: fragmento de texto, citação curta, máxima, etc., colocada em frontispício de livro, no início de uma narrativa, deum capítulo, de uma composição poética, etc., como orientação de leitura ou objectivos afins.
2 progénie: descendência, sucessão.
3 estreme: pura, radical.

Para responder aos itens de 1 a 6, escreva, na folha de respostas, o número do item seguido da letra identificativa da alternativa correcta.

1. Segundo o autor, na fruição de uma obra de arte, classificá-la torna-se
A. inadequado.
B. impossível.
C. indiferente.
D. imprescindível.

2. O recurso a interrogativas (linhas 4-6) serve ao autor como
A. introdução à temática que vai desenvolver.
B. questionamento dirigido a outros críticos.
C. rol de suspeitas decorrentes da leitura do livro.
D. efeito meramente retórico e estilístico.

3. Com o recurso ao termo «caleidoscópio» (linha 8), o autor vê Memorial do Convento como uma obra
A. obscura na sua multiplicidade.
B. multifacetada como a vida.
C. emaranhada como um labirinto.
D. única na sua singularidade.

4. Com a transcrição do poema de Brecht (linhas 22-23), o autor pretende sublinhar
A. o testemunho de um autor dramático.
B. a variedade possível de epígrafes.
C. o paralelismo com Memorial do Convento.
D. a semelhança com as anteriores epígrafes.


5. O antecedente do pronome «que» (linha 30) é
A. «romance» (linha 29).
B. «estilo incomparável» (linha 30).
C. «perfeito domínio» (linha 30).
D. «língua portuguesa» (linha 30).

6. A colocação do pronome «se» (linha 32) em posição anteposta ao verbo justifica-se pela sua
A. inclusão numa frase em discurso indirecto.
B. inserção numa frase subordinada relativa.
C. dependência de uma construção negativa.
D. integração numa frase interrogativa indirecta.

7. Para responder, escreva, na folha de respostas, o número do item, o número identificativo de cada elemento da coluna A e a letra identificativa do único elemento da coluna B que lhe corresponde.

                              A                                                                                 B



1)     Com o recurso a «É que» (linha 15),


a) o enunciador exprime oposição em relação
à ideia apresentada anteriormente.


2)     Com o recurso à conjunção «mas» (linha 16),


b) o enunciador narra um acontecimento
ilustrativo da ideia exposta.
        
       3) Com a utilização da frase negativa iniciada por «De outra coisa não fala» (linha 18),


c) o enunciador nega para afirmar com mais
veemência.


3)     Com o recurso ao travessão duplo (linhas 19-20),


d) o enunciador estabelece uma lógica de finalidade.


4)     Com a utilização da forma do verbo auxiliar modal «poderia» (linha 20),


e) o enunciador exprime uma ideia de conclusão em relação ao referido anteriormente.



f) o enunciador apresenta o conteúdo da frase
como uma possibilidade.



g) o enunciador especifica a informação
apresentada no segmento textual anterior.



h) o enunciador explica a ideia expressa desde
o início do parágrafo.




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