terça-feira, 17 de maio de 2011

Exercício de gramática3

Leia o seguinte texto. Em caso de necessidade, consulte o vocabulário que se apresenta.

Onde Miguel Torga desembestou1 mais furiosamente foi contra a política salazarista.
Prova disso é o poema Cântico do Homem, as prisões nos aljubes2 da PIDE3 e o embargo de algumas obras. (…)
A escalada dos grandes fascismos europeus coincidiu com a maturidade física e intelectual de Miguel Torga. Mussolini marchava sobre Roma, bombardeara a Abissínia e, mais tarde, atacara a França pelas costas, para comprazer ao parceiro, Adolfo Hitler. Implantada no coração da Europa, a «pata rugosa» do nazismo hitleriano ia atirar o mundo para os horrores da Segunda Guerra Mundial. Franco, disposto a fuzilar meia Espanha, se tanto fosse necessário, fuzilava e decapitava «rojos»4 em série. Em Portugal, Salazar, que, para Torga, era um homem dotado do «conhecimento satânico do preço dos homens», transforma-se, aos olhos do poeta do Diário, num enorme «pulmão de aço» pelo qual obrigava todo o país a respirar.
Foi nesta data que Torga se meteu a viajar pelo Velho Mundo. O resultado dessa viagem foi o seu primeiro livro em prosa, O Quarto Dia da Criação do Mundo. Um alarme aos homens do seu tempo e um violento desafio a todos os que reputava seus tiranos. Imediatamente preso pela PIDE, foi encarcerado no Aljube5.
Ainda em França, e antes desta prisão, fora convidado a exilar-se. Mas, se Torga diz que «ser escritor em Portugal é como estar dentro dum túmulo a garatujar na tampa», pensa também que «é preciso pagar a liberdade». E a liberdade estava em Portugal! No estrangeiro, perde-se o que é nosso e não se adquire o alheio… (…)
Torga tem consciência de que, apesar da bruteza ingénita6 do meio em que nasceu e dos trambolhões que pela vida levou, foi privilegiado em relação aos seus conterrâneos. «Dos meus companheiros de classe, alguns finos como corais, poucos assinam hoje o nome. A mão moldou-se de tal maneira à enxada, foi tanta a negrura e a fome que os rodeou, que esqueceram de todo que havia letras e pensamento». Valeu a pena lutar!
António Freire, Lendo Miguel Torga, Porto, Edições Salesianas, 1990
VOCABULÁRIO
1 desembestou: reagiu com violência.
2 aljubes: prisões subterrâneas, cárceres.
3 PIDE: Polícia Internacional e de Defesa do Estado.
4 «rojos»: vermelhos; nome aplicado, em Espanha, a militantes de partidos de esquerda, nomeadamente aos comunistas.
5 Aljube: prisão, em Lisboa, onde ficavam os presos que estavam a ser interrogados na sede da PIDE.
6 ingénita: que nasceu com o indivíduo; inata.

Seleccione, em cada um dos itens de 1 a 7, a única alternativa que permite obter uma afirmação adequada ao sentido do texto.
Escreva, na folha de respostas, o número de cada item, seguido da letra que identifica a alternativa correcta.

1. A utilização das expressões «‘conhecimento satânico do preço dos homens’» (linha 10) e «‘pulmão de aço’» (linha 11) constitui, da parte de Torga, uma
(A) crítica severa à actuação de Salazar.
(B) análise neutra da política salazarista.
(C) censura suave ao papel de Salazar.
(D) reflexão objectiva sobre a governação salazarista.

2. A obra de Torga, «O Quarto Dia da Criação do Mundo» (linha 14), constitui um
(A) elogio aos seus compatriotas.
(B) desabafo dirigido ao povo.
(C) alerta aos seus contemporâneos.
(D) apelo dirigido aos governantes.

3. A expressão «‘finos como corais’» (linha 23) significa
(A) magros, esguios.
(B) inteligentes, perspicazes.
(C) activos, diligentes.
(D) polidos, educados.




4. Os elementos textuais «Miguel Torga» (linha 1), «Miguel Torga» (linha 5), «Torga» (linha 10),
«poeta do Diário» (linha 11), «Torga» (linha 13), «Torga» (linha 17) e «Torga» (linha 21) asseguram
a coesão
(A) lexical.
(B) frásica.
(C) temporal.
(D) interfrásica.

5. Em «para comprazer ao parceiro, Adolfo Hitler.» (linha 6), o constituinte «ao parceiro» desempenha a função de
(A) sujeito.
(B) complemento directo.
(C) vocativo.
(D) complemento indirecto.

6. Em «homens do seu tempo» (linhas 14 e 15), o referente de «seu» é
(A) «Torga» (linha 13).
(B) «Velho Mundo» (linha 13).
(C) «resultado» (linha 13).
(D) «primeiro livro» (linha 14).

7. Em «‘que esqueceram de todo’» (linhas 24 e 25), a conjunção «‘que’» estabelece uma relação de
(A) substituição.
(B) retoma.
(C) consequência.
(D) comparação.

8. Faça corresponder a cada segmento textual da coluna A um único segmento textual da coluna B, de modo a obter uma afirmação adequada ao sentido do texto.
Escreva, na folha de respostas, o número do item e os números que identificam os cinco
segmentos textuais da coluna A, cada um destes seguido da alínea da coluna B que lhe corresponde.
A
    B


1)     Com a expressão «para comprazer» (linha 6),

2)     Com «se tanto fosse necessário» (linhas 8 e 9),

3) Com a frase «fora convidado a exilar-se.»
(linha 17),

4) Com o uso de «também» (linha 19),

5) Com «Valeu a pena lutar!» (linha 25),

a) o enunciador estabelece uma conexão
aditiva.

b) o enunciador expressa uma posição
pessoal.

c) o enunciador manifesta o seu repúdio.

d) o enunciador expõe a consequência da
informação dada anteriormente.

e) o enunciador indica uma finalidade.

f) o enunciador apresenta o conteúdo da frase
como uma possibilidade.

g) o enunciador refere uma acção passada que
precede uma outra também passada.

h) o enunciador faz uma declaração.















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