quarta-feira, 18 de maio de 2011

Alvaro de Campos: apresentação

ÁLVARO DE CAMPOS: o filho indisciplinado da sensação

Álvaro de Campos nasceu em Tavira, no dia 15 de Outubro de 1890 (às 1.30 da tarde …). Este, como sabe, é engenheiro naval (por Glasgow), mas agora está aqui em Lisboa em inactividade. (…)Álvaro de Campos é alto (1,75 m de altura, mais 2 cm do que eu), magro e um pouco tendente a curvar-se. (…)Campos entre branco e moreno, tipo vagamente de judeu português, cabelo, porém, liso e normalmente apartado ao lado, monóculo. (…) Álvaro de Campos teve uma educação vulgar de liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o Opiário. Ensinou-lhe latim um tio beirão que era padre.

"Álvaro de Campos surge quando sinto um súbito impulso para escrever e não sei o quê." Fernando Pessoa, Correspondência 1923-35,


ALVARO DE CAMPOS E OS OUTROS HETERÓNIMOS:

O próprio Pessoa considera que Campos se encontra no «extremo oposto, inteiramente oposto, a Ricardo Reis», apesar de ser como este um discípulo de Caeiro.
Campos  é o “filho indisciplinado da sensação e para ele a sensação é tudo. O sensacionismo faz da sensação a realidade da vida e a base da arte. O eu do poeta tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir.
Este heterónimo aprende de Caeiro a urgência de sentir, mas não lhe basta a «sensação das coisas como são»: procura a totalização das sensações e das percepções conforme as sente, ou como ele próprio afirma “sentir tudo de todas as maneiras”.
Engenheiro naval e viajante, Álvaro de Campos é configurado “biograficamente” por Pessoa como vanguardista e cosmopolita, espelhando-se este seu perfil particularmente nos poemas em que exalta, em tom futurista, a civilização moderna e os valores do  progresso.
carta astral de Álvaro de Campos                 
 Cantor do mundo moderno, o poeta procura incessantemente “sentir tudo de todas as maneiras”, seja a força explosiva dos mecanismos, seja a velocidade, seja o próprio desejo de partir. “Poeta da modernidade”, Campos tanto celebra, em poemas de estilo torrencial, amplo, delirante e até violento, a civilização industrial e mecânica, como expressa o desencanto do quotidiano citadino, adoptando sempre o ponto de vista do homem da cidade.

"Poeta sensacionista e por vezes escandoloso (qualificativos da carta de Pessoa a Casais Monteiro), Campos é o primeiro a retratar-se e a referir circunstâncias biográficas, o que reforça a simulação e daria ao próprio Fernando Pessoa estímulos para se manter na pele de heterónimo. Descreve-se «de monóculo e casaco exageradamente cintado», «franzino e civilizado», «pobre engenheiro preso/A sucessibilíssimas vistorias». Escreve, febril, «à dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica», ou, no seu cubículo, ouvindo o «tic-tac estalado das máquinas de escrever».
Dos vários heterónimos é aquele que mais sensivelmente percorre uma curva evolutiva. " J. P. Coelho, Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa

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