terça-feira, 2 de outubro de 2012


 Fumei a vida.

(Fernando Pessoa)

Quatro grandes temas marcam a obra Pessoana.


Fingimento poético

Resulta da intelectualização do sentir, da racionalização. A sensação surge filtrada pela imaginação criadora. O sentimento não é espontâneo nem é registado no poema na sua forma crua, mas sim elaborado, trabalhado, transportado para fora do poeta, que se despersonaliza e afasta de si mesmo, sendo o espectador lúcido da emoção que criou e que, agora sim, transcreve para o seu poema.

 

Versos importantes:

 "O poeta é um fingidor. / Finge tão completamente / Que chega a fingir que é dor / A dor que deveras sente."

 "O que em mim sente 'stá pensando"

 "Verdadeiramente / Nada em mim sinto."

 

Poemas importantes:

 "Autopsicografia"

 "Isto"

 

 

Dor de pensar

A impossibilidade de Pessoa de sentir verdadeiramente leva-o a querer ser "conscientemente inconsciente", como revela no poema "Ela canta, pobre ceifeira". Pessoa aspira a ser capaz de sentir, deixando de lado a sua racionalidade, mas tendo consciência de si mesmo e da sua felicidade. Porém, tal é impossível, o que desgosta profundamente o sujeito poético que, devido à sua auto-análise constante, se conhece mas se vê a si mesmo como um estranho.

 

Versos importantes:

 "Eu vejo-me e estou sem mim / Conheço-me e não sou eu."

 "Alheio, vou lendo / Como páginas, meu ser."

 "Ter a tua alegre inconsciência / E a consciência disso!"

 

Poemas importantes:

 "Ela canta, pobre ceifeira"

 "Gato que brincas na rua"

 "Cansa sentir quando se pensa"

 "Não sei ser triste a valer"

 

 

 

 

Nostalgia da infância perdida

 

A infância de Pessoa, feliz até aos cinco anos de idade, altura em que o seu pai morreu, assombra-o em adulto. Foi a época dourada da sua vida, a altura em que era verdadeiramente inocente e feliz, capaz de sentir e de estar como nunca mais foi capaz na sua vida. Por isso, a infância perdida, embora desprovida de aspectos autobiográficos, é uma temática muito recorrente na sua obra poética.

 

Versos importantes:

 "E eu era feliz? Não sei: / Fui-o outrora agora."

 "toda aquela infância / Que não tive me vem."

 "Pobre criança a quem não deram nada"

 

Poemas importantes:

 "Quando as crianças brincam"

 "Pobre velha música!"

 "O menino de sua mãe"

 "Não sei, ama, onde era"

 

 

Fragmentação do eu e tédio existencial

O sujeito poético afunda-se na sua mágoa e na sua angústia existencial, uma vez que o que quer, ser "conscientemente inconsciente", é impossível. Toda a sua vida reflete a insatisfação que sente e os falhanços sucessivos acentuam o seu estado de depressão. Pessoa sente-se incapaz de viver a vida, isolado dos outros e até mesmo das suas próprias emoções.

 

Versos importantes:

 "Minha alma é lúcida e rica, / E eu sou um mar de sargaço."

 "Que nojo de mim me fica / Ao olhar para o que faço!"

 "Tudo o que faço ou medito / Fica sempre na metade. / Querendo, quero o infinito. / Fazendo, nada é verdade."

 

Poemas importantes:

 "Viajar! Perder países!"

 "A aranha do meu destino"

 "Náusea. Vontade de nada"

 "Tudo o que faço ou medito"

 

 

 

 

"I know not what tomorrow will bring".

(As suas últimas palavras escritas em inglês)

(retirado do site squidoo.com)

Provas Finais, Exames Nacionais e Testes Intermédios - Ensino Básico e Secundário 2013

1 de Out de 2012
Divulga-se informação relativa às provas finais, aos exames nacionais e aos testes intermédios a realizar no ano letivo 2012/2013


ENSINO SECUNDÁRIO
Informa-se os professores, os alunos, os encarregados de educação e o público em geral que, de acordo com a Portaria n.º 243/2012, de 10 de agosto, conforme expresso no n.º 5 do art.º 13.º - «Os exames finais nacionais realizam-se nos termos definidos no n.º 3 do artigo 29.º do Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho, e incidem sobre os programas e metas curriculares relativos à totalidade dos anos de escolaridade em que a disciplina é lecionada».
Com a alteração legislativa atrás referida, os exames nacionais das disciplinas de Português (639), Matemática A (635), História A (623) e Desenho A (706), a realizar em 2013, têm por referência os programas dos 10.º, 11.º e 12.º anos de escolaridade.
Informações adicionais podem ser consultadas nas Informações-Exame, a publicar oportunamente.
(in GAVE)

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Para refletir:
"É tão difícil descrever o que se sente quando se sente que realmente se existe, e que a alma é uma entidade real, que não sei quais são as palavras humanas com que possa defini-lo." (Bernardo Soares)
O fingimento poético.


A arte consiste em fazer os outros sentir o que nós sentimos, em os libertar deles mesmos, propondo-lhes a nossa personalidade para especial libertação. O que sinto, na verdadeira substância com que o sinto, é absolutamente incomunicável; e quanto mais profundamente o sinto, tanto mais incomunicável é. Para que eu, pois, possa transmitir a outrem o que sinto, tenho que traduzir os meus sentimentos na linguagem dele, isto é, que dizer tais coisas como sendo as que eu sinto, que ele, lendo-as, sinta exactamente o que eu senti. E como este outrem é, por hipótese de arte, não esta ou aquela pessoa, mas toda a gente, isto é, aquela pessoa que é comum a todas as pessoas, o que, afinal, tenho que fazer é converter os meus sentimentos num sentimento humano típico, ainda que pervertendo a verdadeira natureza daquilo que senti.
         Tudo quanto é abstracto é difícil de compreender, porque é difícil de conseguir para ele a atenção de quem o leia. Darei, por isso, um exemplo simples, em que as abstracções que formei se concretizarão. Suponha-se que, por um motivo qualquer, que pode ser o cansaço de fazer contas ou o tédio de não ter que fazer, cai sobre mim uma tristeza vaga da vida, uma angústia de mim que me perturba e inquieta. Se vou traduzir esta emoção por frases que de perto a cinjam, quanto mais de perto a cinjo, mais a dou como propriamente minha, menos, portanto, a comunico a outros. E, se não há comunicá-la a outros, é mais justo e mais fácil senti-la sem a escrever.
         Suponha-se, porém, que desejo comunicá-la a outros, isto é, fazer dela arte, a arte é a comunicação aos outros da nossa identidade íntima com eles; sem e nem há comunicação nem necessidade de a fazer. Procuro qual será a emoção humana vulgar que tenha o tom, o tipo, a forma desta emoção em que estou agora, pelas razões inumanas e particulares de ser um guarda-livros cansado ou um lisboeta aborrecido. E verifico que o tipo de emoção vulgar que produz, na alma vulgar, esta mesma emoção é a saudade da infância perdida.
         Tenho a chave para a porta do meu tema. Escrevo e choro a minha infância perdida; demoro-me comovidamente sobre os pormenores de pessoas e mobília da velha casa na província; evoco a felicidade de não ter direitos nem deveres, de ser livre por não saber pensar nem sentir - e esta evocação, se for bem feita como prosa e visões, vai despertar no meu leitor exactamente a emoção que eu senti, e que nada tinha com infância.
         Menti? Não, compreendi. Que a mentira, salvo a que é infantil e espontânea, e nasce da vontade de estar a sonhar, é tão-somente a noção da existência real dos outros e da necessidade de conformar a essa existência a nossa, que se conformar a ela. A mentira é simplesmente a linguagem ideal da alma,pois, assim como nos servimos de palavras, que são sons articulados de uma maneira absurda, para em linguagem real traduzir os mais íntimos e subtis movimentos da emoção e do pensamento, que as palavras forçosamente não poderão nunca traduzir, assim nos servimos da mentira e da ficção para nos entendermos uns aos outros, o que, com a verdade, própria e intransmissível, se nunca poderia fazer.
         A arte mente porque é social. E há só duas grandes formas de arte – uma que se dirige à nossa alma profunda, a outra que se dirige à nossa alma atenta. A primeira é a poesia, o romance a segunda. A primeira começa a mentir na própria estrutura; a segunda começa a mentir na própria intenção. Uma pretende dar-nos a verdade por meio de linhas variadamente regradas, que mentem à inerência da fala; outra pretende dar-nos a verdade por uma realidade que todos sabemos bem que nunca houve.
         Fingir é amar.(...) Não fugimos, por mais que queiramos, à fraternidade universal. Amamo-nos todos uns aos outros, e a mentira é o beijo que trocamos.
Bernardo Soares - Livro do Desassossego

domingo, 15 de janeiro de 2012


Ficha de aferição de leitura “Felizmente Há Luar!”


1 - A peça “Felizmente Há Luar!” marca posição, pelo conteúdo fortemente ideológico, como denúncia da opressão que se vivia na época em que foi escrita:
    A)

(1961), sob a ditadura de Salazar

    B)

(1861), sob a ditadura de Salazar

    C)

(1761), sob a ditadura de Salazar

2 - O recurso à distanciação histórica e à descrição das injustiças praticadas no início do século XIX em que decorre a acção permitiu-lhe, assim, colocar também em destaque as injustiças do seu tempo e a necessidade de lutar pela liberdade.
    A)

verdadeiro

    B)

falso

3 - “Felizmente Há Luar!”, de Sttau Monteiro, é um:
    A)

drama romântico, de carácter social, dentro dos princípios do teatro épico. Na linha do teatro de Bertolt Brecht, exprime a revolta contra o poder e a convicção de que é necessário mostrar o mundo e o homem em constante devir.

    B)

drama narrativo, de carácter social, dentro dos princípios do teatro épico. Na linha do teatro de Bertolt Brecht, exprime a revolta contra o poder e a convicção de que é necessário mostrar o mundo e o homem em constante devir.

4 - Recorrendo ao teatro épico, coloca em palco essas primeiras manifestações sociais e políticas que levaram à revolução comunista, para que o espectador se posicione criticamente, mas estranho à acção, como sucedia no teatro clássico, preocupado em despertar os sentimentos e as emoções no público.
    A)

verdadeiro

    B)

falso

5 - O momento em que Vicente, um elemento do povo, tece comentários desfavoráveis acerca do general (“estrangeirado” e não aliado do povo) ocorre no:
    A)

primeiro acto

    B)

segundo acto

6 - No primeiro acto Manuel interroga-se "Que posso eu fazer? Sim, que posso eu fazer?"; através do seu monólogo, o espectador (ou o leitor) tem conhecimento da prisão de Gomes Freire ocorrida na madrugada anterior.
    A)

verdadeiro

    B)

falso


7 - Cada um dos actos apresenta uma estrutura paralela e, a partir dos diálogos entre os governadores e os delatores, os episódios do segundo acto surgem como uma consequência daqueles que ocorrem no primeiro: o primeiro acto termina com a prisão de populares que conspiravam contra o governo e com o apelo de "morte ao traidor Gomes Freire d'Andrade", feito por D. Miguel.
    A)

verdadeiro

    B)

falso

8 - Em “Felizmente Há Luar!”, Sttau Monteiro socorre-se da figura do general Gomes Freire de Andrade para debater a situação do povo que vive na miséria e dependente das classes dominantes.
    A)

verdadeiro

    B)

falso

9 - Gomes Freire de Andrade é, sem dúvida, a personagem central da peça, embora só apareça na última cena.
    A)

verdadeiro

    B)

falso

10 - O General Gomes Freire de Andrade é:
    A)

para os populares - é um herói de grande coragem e justiça

    B)

para Matilde e Sousa Falcão - é uma ameaça ao poder absolutista

    C)

para os governadores - é um amigo, honesto, destemido, corajoso; aquele que luta pelos seus ideais, enfrentando o poder instituído

11 - Na obra “Felizmente Há Luar!” é possível aglutinar as personagens em grupos, de acordo com a função que desempenham ao longo da acção. Assim temos o Povo, os Traidores do Povo e os Governantes. O Principal Sousa que representa a interferência da Igreja no Estado, insere-se no terceiro. Fazem parte deste grupo:
    A)

o Marechal Beresford e D. Miguel Forjaz

    B)

o Vicente, o Andrade Corvo e o Morais Sarmento, um popular

    C)

os populares: Manuel, Rita, Antigo Soldado, Primeiro Popular, Segundo Popular, Terceiro Popular, Uma Velha e Uma Voz

12 - Beresford, poderoso, mercenário, interesseiro, calculista, trocista, sarcástico, expressa a sua opinião sobre Portugal dizendo:
    A)

"Neste país de intrigas e de traições, só se entendem uns com os outros para destruir um inimigo comum e eu posso transformar-me nesse inimigo comum, se não tiver cuidado."

    B)

"dá esmola aos pobres e condena à forca os que pretendem acabar com a pobreza"; "condena... em nome de Cristo e mente em nome do Estado".


13 - D. Miguel Forjaz, representante da classe da nobreza, revela um carácter prepotente e corrupto.
    A)

verdadeiro

    B)

falso

14 - Para os governadores o General Gomes Freire de Andrade é uma ameaça ao poder:
    A)

liberal

    B)

absolutista

15 - Matilde:
    A)

exprime romanticamente o amor, reage violentamente perante o ódio e as injustiças, afirma o valor da sinceridade

    B)

mesquinha e medíocre, reveste-se de um falso humanismo e de solidariedade duvidosa, para fomentar a ira popular contra Gomes Freire

16 - Manuel revela o desânimo, a impotência e a passividade da massa popular perante a situação. Razões:
    A)

denuncia a opressão a que o povo tem estado sujeito ((as Invasões Francesas; a ''protecção'' britânica, após a retirada do rei D. Dinis para o Brasil) e a incapacidade de conseguir a libertação e de sair da miséria em que se encontra

    B)

denuncia a opressão a que o povo tem estado sujeito ((as Invasões Francesas; a ''protecção'' britânica, após a retirada do rei D. João VI para o Brasil) e a incapacidade de conseguir a libertação e de sair da miséria em que se encontra

    C)

denuncia a opressão a que o povo tem estado sujeito ((as Invasões Francesas; a ''protecção'' britânica, após a retirada do rei D. Afonso IV para o Brasil) e a incapacidade de conseguir a libertação e de sair da miséria em que se encontra

17 - A acção decorre na cidade de Lisboa encontrando-se esta ligada quer à opressão e violência exercida pelos Senhores do Rossio, os governantes, quer ao descontentamento e miséria do povo. Na verdade, encontramos referências ao Cais do Sodré, ao Largo do Rato, ao café Marrare, ao Campo de Sant'Ana, ao Forte de S. Julião da Barra e ao Rossio.
    A)

verdadeiro

    B)

falso

18 - Matilde, na tentativa desesperada e derradeira de salvar o seu homem, assume uma voz de consciência sobre a injustiça humana. Daqui nasce a duplicidade do título: ironia e crueldade, nas palavras de D. Miguel, para quem, porque "Felizmente há luar", a imagem da execução ficaria na memória dos lisboetas durante muito tempo, como exemplo do que espera os que tentam lutar pela liberdade; contraposta ao "Felizmente há luar" gritado por Matilde no final da peça, para quem a imagem da fogueira onde arde o general será o clarão que "há-de incendiar a terra e abrir as almas".
    A)

verdadeira

    B)

falsa

19 - Ao escolher a saia verde para esperar o companheiro após a morte, Matilde destaca a "alegria" do reencontro ("agora que se acabaram as batalhas, vem apertar-me contra o peito").
    A)

verdadeiro

    B)

falso

sábado, 4 de junho de 2011

A Mensagem e Os Lusíadas

Os Lusíadas de Camões são, obrigatoriamente, uma referência cultural para Fernando Pessoa, na construção da sua Mensagem.

Escreva um texto, de 80 a 120 palavras, que aborde alguns pontos de aproximação e/ou de distanciação entre as duas obras, impregnadas de mitologia, misticismo e simbologia.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

2ª fase de Álvaro de Campos: a fase futurista(2)

Ode Triunfal
1. Orientações de Leitura do Poema
a) A estética não aristotélica (estética da força, em oposição à estética da beleza) realiza-se em textos eufóricos, triunfalistas, sensacionistas, cantando o espasmo da vertigem das sensações provindas das máquinas, das realizações da técnica industrial e dos ruídos das multidões.
b) A. Campos pretende “sentir tudo de todas as maneiras”, por isso transporta para este poema toda a gama de sensações, mesmo as que provêm de grupos marginais. Todavia, a sua atitude transbordante não esconde a manifestação de uma crise, que é, de certa maneira, a doença da civilização moderna. Daí os aspectos negativos ironicamente focalizados.
c) É necessário distinguir neste texto aspectos de sensacionismo e de futurismo.
d) É possível distinguir neste texto, apesar da sua extensão, uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão.
e) O tempo merece também uma atenção especial, já que são anuladas as fronteiras entre passado, presente e futuro. O presente é o instante, a concentração de todos os tempos.
f) Espírito do Poeta face ao mundo da grande técnica moderna – influência de Pessoa-ortónimo

Ideal de A. Campos neste poema = “sentir tudo de todas as maneiras”; sentir tudo numa “histeria de sensações”; sentir tudo e identificar-se com tudo, mesmo com as coisas mais aberrantes [“Ah!, poder exprimir-me todo como um motor se exprime! / Ser completo como uma máquina!/(...) / Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto, / Rasgar-me todo, abrir-me completamente, (...)/ A todos os perfumes de óleos e calores e carvões(...), vv.26-31]
Todo o prazer do poeta está, pois, em revelar-se como um “monte confuso de forças”, um “eu” universo donde jorra a volúpia sensual de ser tudo, uma espécie de “prostituição febril às máquinas”. Este ideal é o oposto do ideal da estética aristotélica, que punha toda a ênfase na ideia da beleza, no conceito do agradável, no equilíbrio comandado pela inteligência.
Na poesia de Campos, em vez da bela harmonia clássica saída da clara inteligência, há a caótica força explosiva saída de um subconsciente em convulsão. A sua poesia revela-se, assim, como um novo processo de descompressão do subconsciente de Pessoa, sempre torturado pela inteligência, pela “dor de pensar”.

Análise semântica
Excesso de sensações

Sensação visual: “À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas” (v.1)

Sensação auditiva: “De vos ouvir demasiadamente de perto” (v.11)

Sensação táctil: “Tenho os lábios secos” (v.10)

Sensação olfactiva: “A todos os perfumes de óleos e calores de carvão” (v.31)

Global:
- “Como eu vos amo de todas as maneiras,/Com os olhos e com os ouvidos e com o olfacto/E com o tacto (o que apalpar-vos representa para mim!)/E com a inteligência como uma antena que fazeis vibrar!/Ah!, como todos os meus sentidos têm cio de vós!” (vv.87-91)

Paixão

“Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera./Amo-vos carnivoramente.” (vv.105-106)
Violência
“À dolorosa luz das lâmpadas eléctricas da fábrica” (v.1)

Erotismo e Sadomasoquismo
- “Possuo-vos como a uma mulher bela” (v.116)

 “Eu podia morrer triturado por um motor/Com o sentimento de deliciosa entrega duma mulher possuída./Atirem-me para dentro das fornalhas!/Metam-me debaixo dos comboios!/Espanquem-me a bordo de navios!/Masoquismo através de maquinismos!/Sadismo de não sei quê moderno e eu e barulho!” (vv. 134-140)

 “Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma.” (v.25)

“Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto, / Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento / A todos os perfumes de óleos e calores e carvões / Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!” (vv.29-32)

Identificação/Fusão com os maquinismos
“Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!” (vv.26-27)

Uso da ironia, para exprimir a face negativa da civilização industrial.
“escrocs exageradamente bem vestidos”: além da ironia, está aqui presente a antítese entre
a compostura exterior (vestuário) dos escrocs e as suas intenções:
“Chefes de família vagamente felizes”: o advérbio “vagamente” projecta sobre a felicidade
dos chefes de família a sombra do cansaço (fartos de viver);
“Banalidade interessante.../ Das burguesinhas.../ Que andam na rua com um fim
qualquer”: de assinalar são a palavra “burguesinhas” e a expressão “com um fim qualquer”, já que
mostram a existência de uma antítese entre o aspecto exterior das burguesinhas (diminutivo irónico) e as suas obscuras intenções;
“A maravilhosa beleza das corrupções políticas, / Deliciosos escândalos financeiros e
diplomáticos”: a adjectivação antitética assume aqui a forma de oxímoro.


_ outras antíteses presentes no poema são:
“tudo o que passa e nunca passa”: exprime a concentração do passado no presente, ou a
continuidade dos acontecimentos do dia-a-dia.;
“O ruído cruel e delicioso da civilização de hoje”: antítese que reflecte os sentimentos
contraditórios do poeta em relação à civilização industrial.
_ presença de metáforas e imagens expressivas, tais como:
“Arde-me a cabeça de vos querer cantar”; “Grandes trópicos humanos de ferro, fogo e força”
“Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável”
“Nos cafés, oásis de inutilidade ruidosas” “Quilhas de chapa de ferro sorrindo
Através destas imagens e metáforas, o sujeito poético mostra a forma como vibra com as coisas da civilização industrial (com a fúria do movimento das máquinas. Além disso, dá também uma imagem muito negativa dos cafés, com ruídos inúteis; apresentando, ainda, a imagem dos navios ancorados:
“quilhas de chapa de ferro sorrindo”.

Análise fónica e morfossintáctica
Frases exclamativas que sublinham a reacção emocional do sujeito poético

Interjeições que reforçam a importância conferida às emoções do sujeito poético. (espanto, alegria, animação, etc.)
Ó!; Olá!; Eia!; Eh-lá!;
Enumerações remetem para uma expressão pautada pela emoção e não pela razão.

Desvios sintácticos:
Acentuam a ideia de espontaneidade do discurso emotivo do sujeito poético.
“fera para a beleza de tudo isto”; “todos os nervos dissecados fora” (v.8)