“Fumei a vida.”
(Fernando Pessoa)
Quatro
grandes temas marcam a obra Pessoana.
Fingimento poético
Resulta da intelectualização do sentir, da racionalização. A sensação
surge filtrada pela imaginação criadora. O sentimento não é espontâneo nem é
registado no poema na sua forma crua, mas sim elaborado, trabalhado,
transportado para fora do poeta, que se despersonaliza e afasta de si mesmo,
sendo o espectador lúcido da emoção que criou e que, agora sim, transcreve para
o seu poema.
Versos
importantes:
"O poeta é um fingidor. / Finge tão
completamente / Que chega a fingir que é dor / A dor que deveras sente."
"O que em mim sente 'stá pensando"
"Verdadeiramente / Nada em mim
sinto."
Poemas
importantes:
"Autopsicografia"
"Isto"
Dor de pensar
A impossibilidade de Pessoa de sentir verdadeiramente leva-o a querer
ser "conscientemente inconsciente", como revela no poema "Ela
canta, pobre ceifeira". Pessoa aspira a ser capaz de sentir, deixando de
lado a sua racionalidade, mas tendo consciência de si mesmo e da sua
felicidade. Porém, tal é impossível, o que desgosta profundamente o sujeito
poético que, devido à sua auto-análise constante, se conhece mas se vê a si
mesmo como um estranho.
Versos
importantes:
"Eu vejo-me e estou sem mim / Conheço-me
e não sou eu."
"Alheio, vou lendo / Como páginas, meu
ser."
"Ter a tua alegre inconsciência / E a
consciência disso!"
Poemas
importantes:
"Ela canta, pobre ceifeira"
"Gato que brincas na rua"
"Cansa sentir quando se pensa"
"Não sei ser triste a valer"
Nostalgia da infância perdida
A infância de Pessoa, feliz até aos cinco anos de idade, altura em que
o seu pai morreu, assombra-o em adulto. Foi a época dourada da sua vida, a
altura em que era verdadeiramente inocente e feliz, capaz de sentir e de estar
como nunca mais foi capaz na sua vida. Por isso, a infância perdida, embora
desprovida de aspectos autobiográficos, é uma temática muito recorrente na sua
obra poética.
Versos
importantes:
"E eu era feliz? Não sei: / Fui-o outrora
agora."
"toda aquela infância / Que não tive me
vem."
"Pobre criança a quem não deram
nada"
Poemas
importantes:
"Quando as crianças brincam"
"Pobre velha música!"
"O menino de sua mãe"
"Não sei, ama, onde era"
Fragmentação do eu e tédio existencial
O sujeito poético afunda-se na sua mágoa e na sua angústia
existencial, uma vez que o que quer, ser "conscientemente
inconsciente", é impossível. Toda a sua vida reflete a insatisfação que
sente e os falhanços sucessivos acentuam o seu estado de depressão. Pessoa
sente-se incapaz de viver a vida, isolado dos outros e até mesmo das suas
próprias emoções.
Versos
importantes:
"Minha alma é lúcida e rica, / E eu sou
um mar de sargaço."
"Que nojo de mim me fica / Ao olhar para
o que faço!"
"Tudo o que faço ou medito / Fica sempre
na metade. / Querendo, quero o infinito. / Fazendo, nada é verdade."
Poemas
importantes:
"Viajar! Perder países!"
"A aranha do meu destino"
"Náusea. Vontade de nada"
"Tudo o que faço ou medito"
"I know
not what tomorrow will bring".
(As suas últimas palavras escritas em inglês)
(retirado do
site squidoo.com)